Relatos por uma jovem entre tantos outros jovens revolucionários! Parte I

sábado, 28 de janeiro de 2012
Dia 20 de Jan. de 2012...

O dia em que o Recife parou e respirou Revolução. Antes disto tornar-se possível foram muitas discussões e reuniões acerca do dito por alguns 'boato' do aumento das passagens. Dentro dessas discussões, ampla participação dos movimentos sociais, partidos & juventudes de esquerda, anarquistas e independentes. Todos unidos no mesmo objetivo: Barrar o aumento das passagens! Estabeleceu-se comissões para melhor organização do grande dia. Foram mais de 300 pessoas, há quem diga que foram poucos. Mas organizar uma passeata em pleno mês de Janeiro com férias, nunca será uma tarefa fácil!

Os 300 guerreiros com cartazes, faixas e bandeiras misturadas a tinta dos rostos pintaram um Recife mais belo e muito bem acolhido pela população Pernambucana. Ao passar na avenida o coro de nossas vozes somava-se aos aplausos dos trabalhadores que nos viam. Em contraponto a essa mágica beleza via-se ao lado a, por enquanto, silenciosa marcha da repressão. A passeata foi organizada no dia em que o aumento entraria em votação e nosso objetivo era seguir rumo ao Consórcio Grande Recife para podermos barrar esse aumento. Durante o protesto no Centro do Recife recebemos a notícia que o fato havia sido consumado (aumento de 6%) e seria enfim instituído no dia de domingo seguinte (22 de Jan. 2012). A proposta aprovada foi a de Governo, o que nos fez prontamente mudar o percurso da passeata para o Palácio das Princesas. Quando chegamos aos Cais e íamos seguir para a Casa do Governo nos deparamos num momento propício para uma ampla e eficaz investida da polícia, a final ali era uma ambiente de pouca circulação de pedestres, poucas testemunhas para a cena de guerra. E foi assim que se sucedeu! Bombas lançadas, tiros de bala de borracha e muito spray de pimenta transformou o protesto pacífico em cenas de uma filme de guerra cuja história era verídica. Corremos, fugimos pois não tínhamos como lutar contra as armas da PM-PE se a nossa arma era apenas a voz! A passeata se partiu e os vários grupos que se dividiam entre as ruas do mercado de São José. Em nosso semblante as marcas do desespero fugaz recebidos com  as lojas que iam fechando por onde passávamos... Então fugíamos para lugar nenhum!

Passado o momento de tormento, era hora de pensar, discutir e agir perante tal situação. Logo entramos em contato com os outros grupos e iriamos seguir rumo a FDR para encontrar os outros camaradas. No caminho não calamos, as armas não nos fizeram perder a voz. Apenas fez enfervecer mais o sangue vermelho comunista e ter ainda mais convicção de falar, pois gritar neste momento era preciso! Partimos pelo mercado, rua nova, imperatriz, 7 de setembro e desta vez tranquilos e animados, entre nossos gritos vinham mais uma vez aplausos.


Ao chegarmos a faculdade, já se encontravam alguns companheiros feridos e/ou que transformavam o cansaço em força para lutar pela liberdade de expressão e contra todo tipo de excesso feito pela polícia para tirar nosso direito constitucionalmente garantido! Fizemos plenária! Em reunião a decisão era seguir para OAB para fazer a denúncia contra a polícia, paramos a Rua da Faculdade de Direito da UFPE para seguir na caminhada. Mas as cenas de guerra se repetiram... Corremos para dentro da faculdade achando que teríamos a segurança necessária, pois dentro de uma Universidade Federal só é permitido entrada da polícia federal. No papel isso pode até ser concreto, mas não foi o que vimos na prática. 

Ficamos presos entre fumaças e mais feridos... Neste dia a FDR / UFPE volta a ser o mesmo cenário/palco uma vez visto em 1977, época da ditadura militar. Ditadura?! Será que a medida que a sociedade avança nós regredimos?! Não... mesmo que as vezes algumas atitudes possam nos levar a tal pensamento. E isso só nos fortalece a pensar que o nosso espírito revolucionário de desejar um País mais justo construído com respeito a liberdade e pluralidade de opiniões não envelheça! E a luta continua, firme ela continua! E este é apenas um capítulo relatado por uma jovem entre tantos outros jovens revolucionários!

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