O Congresso da União Nacional dos Estudantes, realizado entre os dias 13 a 17 deste mês, evidenciou mais uma vez a força e a grandeza do movimento estudantil brasileiro. Mais de 10 mil estudantes, de todos os estados, eleitos por outros mais de 1 milhão e meio em quase a totalidade das instituições de ensino superior do Brasil.
Na programação do Congresso, nomes de peso do movimento político e educacional do país, como o ex-presidente Lula, o Ministro da Educação, Fernando Haddad, o Senador Cristovam Buarque, Márcio Porchmann, dentre outros. Além disso, tivemos diversos painéis, Conferências Livres de Juventude, ato em defesa do pré-sal pra educação, uma vasta programação cultural e debates fervorosos cujo centro foi a projeção do Brasil que queremos construir.
O 52º Congresso da UNE elegeu o carioca Daniel Iliescu, cuja chapa, “O Movimento Estudantil Unificado Pras Mudanças no Brasil”, reuniu diversas correntes de opinião política cuja principal pauta é fortalecer as mobilizações por 10% do PIB pra educação em uma grande Jornada Nacional de Lutas no mês de agosto.
Dentre as resoluções aprovada no rico espaço de discussão que é o Congresso da UNE estão o apoio à criação da Comissão da Verdade na Câmara dos Deputados, a fiscalização por parte da UNE dos recursos que serão investidos para a Copa do Mundo e Olimpíadas e ainda um texto crítico quanto à política de juros e superávit primário do governo Dilma.
Enquanto tudo isso acontecia, uma parte da nossa imprensa – a mesma que se coloca contrária às greves de servidores, que criminaliza os movimentos sociais, em especial o MST, que se rende a tudo o que vem de fora e subjulga o que é do nosso país – atacou o encontro dos estudantes, taxando-o de “chapa branca” por receber patrocínio de estatais.
Somente setores da sociedade incapazes de compreender a pluralidade da juventude e do movimento estudantil brasileiro podem fazer afirmação tão equivocada. A União Nacional dos Estudantes é a entidade do movimento social mais democrática do Brasil. Em seu Congresso, era possível identificar inúmeras correntes políticas – PCdoB, PT, PMDB, Psol, PCR, PPL, PDT, PSB, POR -, cujas opiniões, mesmo divergentes, são respeitadas e contribuem para que a UNE seja uma entidade tão grande, respeitada e influente na sociedade brasileira. Tanto que em sua fala no grupo de desenvolvimento nacional, o Senador Cristovam Buarque afirmou “gostaria que no Congresso Nacional houvesse debate de idéias tão rico quanto neste espaço”.
Questionam o patrocínio de estatais como se a UNE não fosse uma entidade de grande utilidade pública. Discussões apresentadas e aprovadas nos congressos da entidade repercutem nas universidades e nas campanhas promovidas pelo movimento estudantil em todos os Estados do país. É o recurso público a serviço do Brasil e do fortalecimento da nossa democracia. Não se pode dizer o mesmo quando esse mesmo recurso financia jornais que defendem as causas mais afinadas com interesses externos em detrimento do nosso país.
O que esse setor da imprensa costumeiramente finge não perceber é que o Brasil mudou e a UNE é parte e produto dessa transformação. Ao contrário de 1998 e 2002 quando o principal tema no país era o desemprego, hoje o Brasil se prepara para ser uma nação desenvolvida, com ampliação de sua qualidade democrática e a participação do povo nas riquezas produzidas.
Dez anos atrás fazíamos passeata rumo ao Palácio do Planalto porque o professor universitário recebia baixos e congelados salários, porque a assistência estudantil não estava na pauta do governo federal, porque a graduação de nível superior no Brasil era exclusividade de uma parcela reduzida de jovens, porque se abria instituições privadas a torto e a direito sem qualidade, porque não foram criadas novas instituições federais de ensino superior, dentre outros. É isso o que a imprensa finge não perceber.
As principais mobilizações da UNE no último período foram propositivas, no sentido de avançar ainda mais nas conquistas do povo brasileiro. É significativamente diferente de quando nossa pauta era de reação às mais diversas políticas educacionais e sociais implementadas pelo governo FHC contrárias não apenas à nossa pauta, mas a de todo o movimento educacional do Brasil. Medidas que agravaram nossa baixa qualidade de ensino e acentuaram o antagonismo entre a educação pública e privada.
Aqueles que acham que os estudantes são comprados com patrocínio estatal, deveriam lembrar que em 2001 o governo federal baixou uma Medida Provisória acabando com a exclusividade na emissão de carteiras estudantis da UNE. Na época, imaginaram que tal medida acabaria com a União Nacional dos Estudantes. Enganaram-se, pois os estudantes acabariam sendo determinantes para questionar o modelo econômico e elegendo Lula para a presidência. O que FHC e seu ministro, Paulo Renato, conseguiram foi enfraquecer a meia-entrada no Brasil.
O que devemos mesmo questionar é por que o patrocínio estatal ao Congresso da UNE ocupa páginas e mais páginas desses “preocupados” jornalões brasileiros, mas nossa Jornada de Lutas, que mobiliza mais de 200 mil estudantes, nesses mesmos jornais ganha nota de rodapé.
Em uma coisa a grande imprensa tem razão, a UNE não é mais a mesma. O 52º Congresso da entidade, o maior da nossa história, provou isso. A UNE está cada dia mais forte, mais presente e mais combativa nas universidades brasileiras. Que venha a marcha dos estudantes em agosto! Educação deve deixar de ser discurso para se tornar alavanca para o desenvolvimento nacional!
Ramon Alves é Diretor da União Nacional dos Estudantes.
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